Quem escuta Nonato Luiz, quem o vê com o seu violão, acha que tudo pode.

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Quem escuta Nonato Luiz, quem o vê com o seu violão, acha que tudo pode.

Pela tamanha desenvoltura e naturalidade com que se expressa nessas seis cordas. Nordestino, com todas as influências, nos faz sentir de imediato, a identidade com atitudes e emoções que estão na nossa veia. Ao mesmo tempo que afirma a dolência e o banzo negro, do vaqueiro, dos ciganos, dos mouros, nos presenteia a festa, a verve e a alegria dos folguedos de sons coloridos do povo festivo e farrista. Nos transporta pelas vivências do cotidiano, retratando o caldeirão da nossa mestiçagem. Só assim, para androfagiar Beatles de tão bem posto modo.

Presenciei vários dos seus concertos, tenho alguns dos tantos discos (mais de 20, alguns raros, para loucura dos colecionadores – não sei quem tenha conseguido juntar todos), e testemunho sempre a mesma consonância com o seu público, seja nos salões da alta roda, na grande arena ao ar-livre ou nos pés-de-parede das pequenas cidades.

Nonato e seu violão são um só, cumprindo simplesmente a função de maravilhar. Dolente, alegro, adágio, moto, festeiro, tudo toca com alma lavada, em paz com seus deuses, que hipnotiza numa empatia visceral com seu público ansioso por dar logo a resposta: o aplauso, que mais vivifica homem e instrumento.

Além da primorosa música, admiro o artista pelo que consegue romper com a apartação cultural que a voraz e, como bem diz o jornalista Flávio Paiva, transgênica indústria do divertimento teima em imprimir. Vindo de um lugar distante no mapa, consegue fazer presente a sua obra, encaixando-a no mais fino sabor da Música Plural Brasileira.

Com a visão e a dinâmica que o fez remexer o báu de Luiz Gonzaga, do Milton Nascimento, das Serenatas Brasileiras, que o fez pactuar com o companheiro Raimundo Fagner, Pedro Soler, Paco de Lucia, Mercedes Sosa, Chico Buarque, Túlio Mourão, e tantos outros, por fim nos abraça com essa inusitada idéia de Beatles para violão, concedendo à obra um quê de brasilidade.

Em sua constante inquietação prolífica tinha de mexer com algo também inquietante e instigante com é a obra dos Beatles. A cada peça acrescenta sessões rápidas de improviso para logo voltar ao principal, num equilibrado caminho entre erudito e popular. Assim, vamos registrando os surgimentos dos temas, simples e imaginativos… É quando nos entregamos de vez ao seu acurado senso de fino alquimista.

E aqui está Nonato Luiz, em traje de sons e Bela Figura, a espalhar sua música sem fronteiras.

EUGÊNIO LEANDRO.

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